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Foto do escritorAline Veroneze

ENTENDA A CRISE DE PROFESSORES - COM DAVID JUSTINO

Atualizado: 9 de out.

O #Nem1SemProfessor busca inciativas em prol dos professores em Portugal e, para entender a fundo essa questão, é preciso compreender o contexto do que ocorre no país.


O que está envolvido nesse "apagão" docente?

A questão não é surpresa. A resposta, por sua vez, é complexa e necessária. Vamos iniciar esse reconhecimento de terrento com um olhar panorâmico da docência em Portugal. Para isso, ouvimos quem faz tanto ciência como política, o ex-ministro e professor catedrático na área de sociologia na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, David Justino.


David foi professor e percebeu o início do desinteresse pela profissão docente. Quando era Ministro da educação, lidou com uma grande procura de jovens que queriam ser professores, mas grande parte deles estavam concentrados no norte do país. Essa situação não só permaneceu, como evoluiu, de modo que hoje, não só o interior, mas áreas metropolitanas de Lisboa e o sul do país estão com um grave déficit de professores.


Entrevista concedida dia 19 de setembro de 2024 - parte 1


A falta de condições para exercer a profissão longe de casa consolidou um deserto docente no país. David Justino reconhece que mesmo antigamente já era difícil achar alojamentos perto das escolas e que o salário não compensava as distâncias. Ainda hoje, com auxílios de deslocação, é preciso oferecer mais segurança aos profissionais.


A profissão precisa dar aos jovens em início de carreira a segurança necessária para que se estabeleçam e formem suas famílias. Há professores há dez, quinze, vinte anos em situação de contrato, sem poder vinculá-lo, sem ter alguma estabilidade que, aos poucos, contribua para que possam trabalhar mais próximos do lugar que desejam.

Um cenário que perdura a décadas sem qualquer mudança significativa.



Entrevista concedida dia 19 de setembro de 2024 - parte 2


Além das questões salariais e de estabilidade na carreira, o ex-ministro acredita que a falta de professores não seria tão grave se houvesse melhor gestão de recursos humanos e da rede. David reconhece que tem havido boa intenção, mas má administração. Ele aponta o tamanho das turmas, a ciração de novas disciplinas, a manutenção de cursos com baixíssima frequência como alguns exemplos.





Entrevista concedida dia 19 de setembro de 2024 - parte 3


O Nem1SemProfessor quis saber se há algum projeto para incentivar a formação de docentes entre alunos que estão na altura de escolher a profissão nessas regiões em que há carência profissional, a fim de que futuramente o governo não precise pagar por deslocamentos e que os jovens possam trabalhar próximo às famílias, às casas em que residem. David explica que, com excessão de Lisboa e sua periferia, o deserto de professores ocorre em áreas em que existem poucas crianças, de baixa natalidade e nas quais não há jovens que permaneçam. A natalidade descresce nessas localidades desde os anos 60, o que torna a questão previsível ao planejamento.


Quando Ministro, David Justino chegou a pensar em reformular o estatuto da carreira docente, mas relembra que, na época, não teve, sequer, parceiros para a conversa. Questões financeiras dificultavam a resolução do problema. Ele defende que o estatuto docente precisa ser revisto porque tem entraves à progressão na carreira que diminuem a atratividade da profissão. Além disso, é preciso garantir avaliações de desempenho que assegurem que os professores que entrem tenham qualidade e que mantenham o padrão durante o percursos.


"Há uma questão da imagem do professor, mesmo que haja muita necessidade não podemos simplesmente abrir a toda gente porque nem toda gente dá para isso", afirma.

David salienta como é complexa a atividade docente para formar um cidadão completo, com as literacias de base, em especial com um cenário social e tecnológico em evolução tão rápida.


Perguntamos sobre a estratégia de aumentar as turmas para lidar com o deficit de professores, ao que respondeu que também concorda que nem todas as disicplinas podem ser ministradas com êxito em turmas grandes e que o aumento das turmas ocorreu em poucas escolas. Contudo, destaca que, de todo modo, ter turmas um pouco maiores não compromete a qualidade da educação, porque há que se adaptar e mudar as estratégias de ensino de acordo com a turma que se tem. David enfatiza a necessidade de gerir os recursos e reconhece: o maior desafio é conseguir atrair, com urgência nos próximos anos, professores para os dois terços do território que carecem dessa mão de obra.


Como atrair os jovens é a questão de um milhão de euros nesse momento! Certo é que, ao investir anos de estudo em uma carreira, o que se quer é sentir-se valorizado, respeitado e necessário. Vamos a isso!


Esse blog é parte da investigação “Nas redes pela educação: comunicação estratégica a serviço da cidadania”, financiado por fundos da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior da República Portuguesa, no âmbito do projeto 2023.01746.BD.


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